A MULHER NEGRA EVANGÉLICA E A REJEIÇÃO DO HOMEM NEGRO

 "Bela, formosa, inteligente, “benção de Deus”, porém, rejeitada. Essa é a frase de milhares de mulheres negras que vivem dentro das igrejas evangélicas. São belas e formosas, inteligentes, uma benção para vida dos irmãos – mas não servem para casar.
Falar sobre a mulher negra é sempre momento de reflexão e sobre a mulher negra evangélica não é diferente por esta sofrer tripla discriminação: ser mulher, negra e evangélica, enfim uma mulher negra que sofre, não menos que as demais.
Não é novidade que a mulher negra é, em sua maioria, rejeitada pelo homem negro e explorada em diversos aspectos pelo homem branco. Dentro da igreja evangélica isso não é diferente. Historicamente, a figura da mulher negra foi criada por trás do estereótipo de beleza e sensualidade: uma imagem totalmente sexualizada. Essa dualidade marcou sociedades inteiras por causa da escravidão, marcando também, o homem negro que tornou-se machista, aprendendo com o mundo ocidental tal prática.
É bastante comum encontrar irmãs, em média, com 30/40 anos solteiras dentro das igrejas, simplesmente porque nenhum irmão a desejou para casar-se com ela. As mulheres negras na igreja, muitas vezes, são consideradas feias. Em contrapartida é bastante comum, também, encontrar irmãs brancas casadas com negros e brancos da igreja (essas brancas casadas com negros são, em maioria, pobres e, ou com pouca instrução), enquanto as negras servem para profetizar, para limpar, para orar e não para ter uma família como as demais mulheres: a dita vida “abençoada por Deus”.




Muitas das mulheres negras casadas foram ou são violentadas, física ou moralmente por seus maridos machistas. Outras solteiras foram exploradas sexualmente, enganadas com falsas promessas de casamento.
Os jovens negros das igrejas “ficam”, às vezes, com uma irmã negra – e isso, geralmente às escondidas – mas dificilmente deseja casar ou assumir um relacionamento que gere futuro casamento. Namorar e casar, preferencialmente, com as brancas, pois ser negra na igreja é sinônimo de feiúra e casar com uma negra não “dá bons cargos” nem “status”. Muitos negros evangélicos não são diferentes de alguns negros que estão fora das igrejas ambos gostam de exibir uma branca como se fosse um troféu e isso, acontece não porque de fato estão apaixonados por elas, mas é como se isso lhes desse o título superior de posse por estar com uma branca. Eles têm relações sexuais com as negras, mas dificilmente casar-se-ão com uma delas. O machismo ocidental, com certeza, se repete dentro das igrejas.
Não se dá ênfase para os relacionamentos entre os negros, não há questionamento dentro das igrejas do porque de a maioria das famílias negras dentro das igrejas serem desestruturadas.
Mães separadas que geraram futuras mães ou mulheres solteiras e separadas, não se questiona o porquê de o homem negro rejeitar, usar e abusar da irmã de sua cor, muito menos o porquê de muitos irmãos negros terem muitos filhos com famílias diferentes. Desestruturar as famílias é uma das piores violências que se pode cometer contra um povo, é mais uma forma de genocídio do nosso povo.
As igrejas ao tentarem comentar o racismo – dar para contar as que fazem isso – elas o abordam de forma que, aparentemente, o racismo e o racista estão somente lá fora, no “mundo”, ou melhor, na sociedade e não algo que realmente envolva a igreja e que esteja, também, dentro da igreja. Existe a hipocrisia da falsa igualdade. É necessário recontar e reescrever aspectos de nossa história africana é preciso desconstruir os dramas que sucedem às famílias negras evangélicas. A mulher negra foi, profunda e intimamente, marcada negativamente e a igreja ainda hoje fere o ser mulher negra evangélica. É preciso construir na igreja a cultura negra e estimular o amor entre nosso povo, é preciso desconstruir o machismo ocidental que desestrutura e destrói as nossas famílias.
Para finalizar a nossa reflexão quero deixar alguns versículos do livro de Cantares 1 de Salomão o qual ele escreveu junto com a sua negra Makeda (a Rainha de Sabá 1Reis10). Que os homens negros possam amar as suas mulheres negras assim como Yeshua planejou. Que os homens negros sejam libertos do machismo ocidental que marginaliza o amor e as nossas famílias.
1 – “O cântico dos cânticos, que é de Salomão”
2 – “Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho.” (Salomão)
5 – “Eu sou preta e formosa, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão.”(Rainha de Sabá)
6 – “Não repareis em eu ser preta; os filhos de minha mãe indignaram-se contra mim, e me puseram por guarda de vinhas; a minha vinha, porém, não guardei.” Neste versículo a marca de resistência da mulher preta e a inveja das demais mulheres. (Rainha de Sabá)
10 – “Formosas são as tuas faces entre as tuas tranças.   



Autoria de Elba Oliveira Chrysostomo Pseudônimo Makeda Foluke Nabulungi. Professora, Pan-africanista, Secretária do CNNC/Ba e Fiscal CNNC/Br.

Mais informações sobre racismo nas igrejas: http://www.news.va/pt/news/dia-da-consciencia-negra-ha-racismo-na-igreja
http://www.metodista.org.br/conteudo.xhtml;jsessionid=FE1A98BC42C03A1FFB56300AE43EFD4D?c=10036

http://www.2guerra.com.br/novosite/index.php?option=com_content&view=article&id=722:evanglicos-admitem-racismo-na-igreja-batista-e-relao-com-o-nazismo&catid=138:a-igreja-e-o-nazismo&Itemid=32





Comentários