DEUS, A IGREJA E O ROCK: FERRAMENTA DE EVANGELIZAÇÃO?



Hoje o AltoFalanteGospel, aborda um tema que por incrível que pareça ainda gera polêmica no meio cristão: o rock'n'roll, como música de louvor.


Como jovem, e membro de uma igreja com um perfil tradicional, onde ouvimos com mais frequência, hinos e cânticos do HCC e da Harpa Cristã. Sinto necessidade, de louvar a Deus além da música clássica...

Rock’n’Roll é música. Rock é outra coisa. Rock’n’Roll é um gênero musical, alegre, dançante, ingênuo até, que se tornou popular pela simplicidade harmônica de suas composições – o chamado “quadrado de mi”, com os acordes mi-lá e si, voltando para o mi, permite que se execute quase todos os grandes hits, sem qualquer conhecimento teórico-musical –, pela falta de conteúdo das letras e pelo ritmo frenético.

O Rock’n’Roll veio na contramão da cultura americana, ou melhor, na veia da contracultura, um movimento que ganharia ainda mais força e conceito, na Califórnia, com a introdução dos poetas beat e sua literatura bairrista e minimalista; e em Paris, na década de 60.

Surgido em meados da década de 50, nos Estados Unidos, e oriundo do blues e de uma das muitas vertentes da country music – o Blue Grass –, o Rock’n’Roll serviu de trilha sonora para o retorno dos contingentes que foram à Guerra da Coréia. Serviu também para que, num país racista, negros e brancos se unissem, envoltos pela alegria dos hinos e dos grooves (cânticos fervorosos) das igrejas evangélicas. Através dos spirituals e das gospel songs, a música popular batizou como soul music a primeira fusão do Rock’n’Roll com o Evangelho.


Para falar de Jesus, não é necessário mudar o ritmo, e sim a conduta de vida, pensa o roqueiro e pastor PG.

Do surgimento dos Beatles, em 1962, com o chamado Liverpool Sound, até o auge da Beatlemania, em 66, o Rock’n’Roll, como gênero musical, foi perdendo força para as variantes inglesas que se mantiveram fiéis à origem negra, mas foram além do quadrado. A partir daí, o Rock’n’Roll se subdividiu mesmo e saiu de cena, dando lugar a uma megahierarquia comportamental que se chama rock. Só rock. Entraram na ordem do dia o rock progressivo, o rock sinfônico, o jazz rock, o folk rock, o country rock e aí, sim, as experiências com drogas pesadas e os excessos de todo tipo nortearam e desnortearam a metade final do século XX.

O teatro, o cinema, a literatura, a estética da moda, a cosmética, a educação, enfim, tudo mudou a partir dali. Motos com garfos telescópicos, roupas de couro, jeans, cabelos e barbas enormes e em desalinho, a camiseta, o milk-shake, James Dean, Marlon Brando e até o ritmo alucinante do Rock’n’Roll hoje fazem parte deste estilo.

Com o passar do tempo, o rock foi se transformando e se renovando, dando origem a outros estilos. O hard rock e o heavy metal foram, no entanto, o estopim para o reposicionamento da temática ocultista e mística, com pequenas e sutis introduções de satanismo. A maioria das bandas tinha essa característica, principalmente Rolling Stones e Led Zepellin, o que proporcionou o surgimento de vários exageros, lendas e mitos acerca desse estilo.


No início dos anos 70, a banda Petra abria caminho no ambiente cristão para que o rock levasse também a mensagem do Evangelho.

 


No entanto, a bem da verdade, roqueiros dos Stones e do Zeppellin não fizeram muito mais dos que os velhos blues men, do Delta do Mississipi, nos anos 30. O mais famoso de todos, Robert Johnson, tornou-se mais conhecido pela lenda de ter vendido sua alma ao diabo em troca de mulheres e sucesso, do que pelo fato de ter seus clássicos transformados em sucessos por Eric Clapton e companhia. Johnson morreu jovem, dizem, porque fez o pacto mas não quis cumpri-lo.

Voltando aos anos 60, a sociedade conservadora e ortodoxa da época não via com bons olhos seus jovens se rebelando e vivenciando uma profunda transformação cultural e ideológica. Para poder encontrar alguma forma de parar esse “absurdo” e criar uma maneira mais efetiva de resgatar a juventude dessa “má influência”, foram criados argumentos de impacto.

Com o objetivo de chocar e afastar o mundo daquele ritmo“profano”, foi iniciada a chamada “caça às bruxas”. Várias bandas foram acusadas de satanismo. Histórias de necrofilia, sacrifícios, invocações, pactos, e de fatos estranhos e inexplicáveis foram espalhadas. A profunda imersão no mundo das drogas que os anos 60 propiciou também contribuiu bastante para aumentar a má fama do rock. E, certamente, muito disso era a mais absoluta verdade.

ROCK CRISTÃO

No início dos anos 70, a banda Petra surgiu como alívio às mensagens ocultas e pagãs apregoadas pela maioria das bandas. Petra entrou na luta para abrir um novo caminho dentro do próprio rock. Através de seu trabalho, provou que nem todo rock é de origem satânica, como muitos grupos conservadores americanos gostavam de pregar, visando afastar os jovens da perdição, e que acabou sendo espalhado como verdade por todos os cantos do mundo.

É inquestionável que o rock, desde a sua ramificação em segmentos, dentre eles o heavy metal, vem sendo usado como meio para que muitos grupos disseminem mensagens antagônicas ao cristianismo. O grande erro da sociedade foi pegar esses exemplos e, por ignorância, transformá-los em regra. Como se todas as bandas e pessoas que gostam de rock tivessem mentalidade nefasta e maléfica. A começar, um gênero musical em si não pode ser classificado com do “bem” ou “do mal”. Na verdade, pode-se achá-lo bom ou ruim, mas pelo conteúdo musical. É o seu conteúdo que o caracteriza.


Para Marcão, vocalista da banda Fruto Sagrado, Deus busca adoradores capazes de viver uma vida santa em qualquer situação, cantando qualquer estilo de música.

Como algumas bandas usam o rock para proferir palavras profanas e incitar a desordem, outras usam para o bem, com letras reflexivas e evangelísticas, contribuindo para a revisão de conceitos que, muitas vezes, levam as pessoas a aceitar o Evangelho.

Artistas como Larry Norman, a banda Petra e Rez Band, sofreram muito por todo esse preconceito contra o rock. Tidos como escândalo na música cristã, que mantinha padrões de séculos passados e era muito estereotipada, foram boicotados, xingados, excluídos, criticados e evitados. Tudo isso, pelo fato de tocarem rock. “Todos esses grupos tinham atitudes de roqueiros e se vestiam como tal porque entendiam que, para falar de Jesus, não é necessário mudar o ritmo, e sim a conduta de vida”, afirmou o roqueiro e pastor PG. Este depoimento confirma a diferença entre o ritmo Rock’n’Roll e o comportamento rock.

HEAVY METAL

O rock pesado cristão encontrou sua base e fundações iniciais com a banda Stryper. Se o Petra e seus outros companheiros de rock cristão já tinham sofrido muito com o preconceito da época, o Stryper, por fazer um som definitivamente mais pesado, agressivo, e por seu visual extravagante, foi imediatamente bombardeado por todos os lados. Transpondo as barreiras, no entanto, o grupo conseguiu levar adiante o heavy metal nas letras cristãs.

A banda Stryper alcançou um status, tanto musical quanto comercialmente, nunca imaginado para um grupo cristão. Atingiu o primeiro lugar das paradas da MTV, com álbuns no top 40 da Bilboard, e recebeu substancial atenção da crítica secular, o que a tornou conceituada em todo o mundo. Foi revolucionária, inovadora e muito mais incisiva no que diz respeito à música e postura – ganhou fama por jogar Bíblias estilizadas para a platéia em seus shows – além de propagar o número 777, em contraposição ao 666, da besta.

A expansão do chamado new metal também se refletiu no Brasil, com a formação de várias bandas e o surgimento de artistas-solo que, por sua vez, também enfrentaram preconceito. Entre eles, Oficina G3, Resgate, Fruto Sagrado, Katsbarnéa. “Muitas pessoas saíam de longe para me ver cantar, apenas para constatar se eu realmente era convertido. O fato de um cristão gostar de rock e usar esse ritmo como forma de evangelizar vidas não era aceito pelos mais conservadores”, lembra Brother Simion, um dos precursores do chamado rock cristão no país.


Vocalista da banda Oficina G3, Juninho Afram defende o rock cristão com o versículo: “Tudo quanto tem fôlego, louve ao Senhor.”


Raul Seixas, em sua música intitulada “Rock do Diabo”, lançou a frase“O diabo é o pai do rock”, de grande repercussão no meio evangélico. Baseadas nessa afirmação, várias igrejas da década de 80 foram totalmente contrárias ao ritmo. “Satanás não é criador de nada, ele é apenas um usurpador, pai da mentira”, declarou Juninho Afram, vocalista da banda Oficina G3, que ainda destacou a passagem bíblica de João 8.44, que diz: “Tudo quanto tem fôlego, louve ao Senhor”.

PG, Juninho Afram e Brother Simion, ao serem entrevistados por Enfoque, questionaram: “Qual o critério utilizado para definir um estilo musical como bom ou ruim do ponto de vista moral? Se o rock é um estilo mau, todos os ouvintes de rock serão necessariamente maus ou terão fortes traços de maldade em sua personalidade? Ou ainda, todos os ouvintes de música clássica serão puros e harmoniosos como as músicas que escutam? Onde está o embasamento real para tal teoria, que estabelece uma associação inflexível entre o estilo apreciado e o caráter da pessoa que o aprecia?”.


Não existe uma bateria protestante, um saxofone santo, uma guitarra pervertida ou um cavaquinho satânico. Cada um dispõe de seu livre arbítrio para usar a música para adorar a Deus, ou em alguns casos, a outros deuses. A utilização de um determinado estilo musical numa religião ou seita não padroniza nem “demoniza” esse estilo. A música é uma criação divina; ela é apenas utilizada para propósitos e fins contrários à vontade do Criador.

A música é um veículo poderoso que pode ser utilizado em qualquer tipo de manifestação ou crença religiosa. Com o rock não foi diferente –também se tornou uma ferramenta de evangelização, capaz de falar do amor de Deus aos mais diferentes tipos de pessoas.

A esse assunto, o escritor Flávio Lages Rodrigues dedica um capítulo em seu livro O Rock na Evangelização, lançado recentemente pela MK Editora. “A música rock, nas suas mais variadas ramificações, pode ser usada para evangelizar as tribos urbanas, aproveitando a sua grande receptividade diante do mundo contemporâneo. Assim como toda a criação de Deus, as artes em geral (e especificamente o rock) devem ser redimidas dos efeitos destrutivos do pecado, para serem usadas para glorificar ao Pai, ao Filho e ao Santo Espírito”, diz Rodrigues no último capítulo de seu livro.


Juninho Afram ressalta que nos últimos anos os evangélicos têm resgatado todas as expressões culturais que foram roubadas pelo mundo, como, por exemplo, a dança e os ritmos musicais. “Por muito tempo a igreja brasileira se fechou, as pessoas estavam acomodadas em seu mundo espiritual. Não havia uma preocupação em falar uma linguagem acessível aos não cristãos”, ressalta.

Marcão, vocalista da banda Fruto Sagrado, afirma que Deus não quer a música como principal instrumento de louvor. “O que Ele deseja é a existência de bons representantes do Reino na terra”, explica. Segundo o cantor, Deus busca adoradores que sejam reflexos de valores eternos e não de valores humanos, capazes de viver uma vida santa em qualquer situação, cantando qualquer estilo de música, ou vivendo em qualquer lugar do mundo. Ele analisa que “o nosso comprometimento com Deus e com a Palavra fez com que as barreiras do preconceito fossem derrubadas. Mas isso não é mérito nosso, e sim ação divina nas nossas vidas”.

Questionado sobre o fato de a igreja do século XXI aceitar com mais facilidade o rock, PG disse que o que determinou essa mudança foram os frutos resultantes desse trabalho. “Milhares de jovens conheceram a Cristo através de shows de rock cristão. Abandonaram as drogas, a vida promíscua, e passaram a viver de forma santa. Você acha que a igreja poderia ficar indiferente a todo esse movimento?”, indaga, e complementa seu pensamento lembrando o que diz a própria Bíblia – a árvore é conhecida por seus frutos. Uma árvore saudável produz bons frutos, e o rock tem demonstrado isso.

Alguém ainda duvida? :)

Fontes:http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=60&materia=504

           www.rocknaigreja.blogger.com.br/
           blog.cancaonova.com/revolucaojesus/.../voce-curte-rock-na-igreja
           http://www.slideshare.net/JUNIOROMNI30/a-igreja-de-jesus-cristo-contra-o-rock-n-roll

 

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