O CRISTÃO E A JUSTIÇA SECULAR...

 

Por esses dias, aconteceram fatos que fizeram-me analisar  a minha vida cristã. Um desses fatos causou-me um certo questionamento pessoal:

 

 O cristão deve ou não recorrer à justiça secular?



Antes do desenvolvimento do tema, gostaria de destacar que a cada dia, aumenta o número de advogados evangélicos, membros em nossas igrejas, inclusive alguns são pastores. E que muitas igrejas, como a Primeira Igreja Batista de Aracaju possuem um Departamento Jurídico em seus organogramas institucionais. Muitas delas alegam que é algo que se faz necessário, para que defendam os seus interesses perante o Estado e a sociedade.

 

No entanto, esquecem que se a Igreja Evangélica cuidasse do que a Palavra diz, e em todas as coisas,  honrasse seus compromissos legais e sociais, andando com simplicidade, retidão e honra não aparente muitas coisas ruins para a propagação do Evangelho de Cristo, não aconteceriam...

 

Mas por muitas razões, carnais, terrenas e diabólicas a Igreja desvia-se do seu propósito original, e para parecer "santa" diante do povo interno e externo, recorre as mais diversas estratégias humanas, para manter a inútil honra aparente, usando todo tipo de meios para que apenas "mensagens adequadas" cheguem aos ouvidos da sociedade.

 

Essa guerra com a imprensa, ou com qualquer pessoa, que levante a voz para denunciar abusos e erros cometidos por autoridades religiosas, só acabaria, se a Igreja realmente tomasse a sua real posição junto a Palavra de Deus.

 

Pois enquanto houver FATOS, a imprensa tão somente cumpre a sua função:

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Mas, voltando ao tema inicial...

 

Lendo as Epistolas de Paulo aos Corintíos encontrei os seguintes versículos:

1 - Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos e não perante os santos?

2 - Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deve ser julgado por vós, sois, porventura, indignos de julgar as coisas mínimas?

3 - Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?

4 - Então, se tiverdes negócios em juízo, pertencentes a esta vida, pondes na cadeira aos que são de menos estima na igreja?

5 - Para vos envergonhar o digo: Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?

6 - Mas o irmão vai a juízo com o irmão, e isso perante infiéis.

7 - Na verdade, é já realmente uma falta entre vós terdes demandas uns contra os outros. Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano?

8 - Mas vós mesmos fazeis a injustiça e fazeis o dano e isso aos irmãos.

9 - Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus? 1 Coríntios 6.1-9.

 

 

Na Carta aos Coríntios,  Paulo havia indicado o método correto de resolver disputas quando pregou aos coríntios pela primeira vez: Por que não sofreis, antes, a injustiça? Por que não sofreis, antes, o dano? Um cristão não precisa ser um joguete, nem deve permitir abusos contra si. Mas, no pensamento de Paulo, era melhor suportar uma injustiça ou assumir uma perda financeira do que sofrer o dano espiritual. O Senhor Jesus ensina que o cristão deve resistir ao mal (Mt 5.39). A igreja estava sofrendo uma perda de dignidade e de honra; ela estava experimentando um declínio de influência e respeito; ela estava exaurindo a sua força evangélica. O método cristão de evitar as ações judiciais deveria ser o de sofrer em vez de retaliar.

 

No entanto, o  próprio apóstolo Paulo, em várias situações,  invocou seus direitos. Leiam: At 16.37-39; 22.25-28; 25.11,12; Rm 13.1-7; Mt 22.19-21.

 

Mas Paulo replicou: Açoitaram-nos publicamente, e, sem sermos condenados, sendo homens romanos, nos lançaram na prisão, e agora, encobertamente, nos lançam fora? Não será assim; mas venham eles mesmos e tirem-nos para fora.E o s quadrilheiros foram dizer aos magistrados estas palavras; e eles temeram, ouvindo que eram romanos. Então, vindo, lhes dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem da cidade. Atos dos Apóstolos cap. 16: 37-39

Mas Paulo disse: Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes. Se fiz algum agravo ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode
entregar a eles. Apelo para César. Então, Festo, tendo falado com o conselho, respondeu: Apelaste para César? Para César irás. Atos dos Apóstolos cap. 25: 10-12


 "NÃO PEQUEI... CONTRA A LEI". Paulo não tem conhecimento de nenhum delito que tivesse cometido contra os judeus ou contra a Lei. Paulo realmente guardava a lei moral do AT (cf. 21.24). Sabia que os padrões da lei são imutáveis, assim como o próprio Deus é imutável. Para ele a Lei é santa, boa e espiritual (Rm 7.12,14), e expressa o caráter de Deus e suas exigências para uma vida justa (cf. Mt 5.18,19). Mesmo assim, Paulo não guardava a Lei como um conjunto de códigos ou padrões mediante o qual se tornaria justo. Uma vida justa requer a obra do Espírito Santo no coração e na alma da pessoa. Somente depois de regenerados mediante a graça de Cristo é que podemos obedecer devidamente à lei de Deus, como expressão do nosso desejo em agradar-lhe. Nunca estamos sem lei perante Deus, quando vivemos segundo à lei de Cristo (1 Co 9.21; ver Mt 5.17 nota; Rm 3.21; 8.4).
APELAR PARA CÉSAR ERA UMA PORTA DE ESCAPE DA MORTE PELOS JUDEUS E UMA OPORTUNIDADE PARA PREGAR A CÉSAR, O IMPERADOR DE ROMA.


Minha opinião é que, se existe uma justiça humana que foi instituída por Deus, o cristão não peca se buscar o reparo ou compensação. Deus deu ao homem o governo para julgar e condenar quando fosse o caso, e isso nunca foi revogado. No início Deus já havia dado a Adão o privilégio de nomear os animais e administrar a Criação de Deus. Depois do dilúvio Deus deu a Noé a autoridade de administrar, julgar e punir seus semelhantes.Gên 9:6 "Quem derramar sangue de homem, pelo homem terá o seu sangue derramado; porque Deus fez o homem à sua imagem".

Essa autoridade delegada ao homem, que inclui a pena capital, nunca foi revogada. Em Romanos 13 (veja mais abaixo) diz que a autoridade humana é ministro de Deus para o nosso bem, e que não é em vão que traz a espada. Ou seja, a autoridade tem o poder de punir, inclusive com pena de morte quando necessário. Em que pese toda a celeuma em torno da pena de morte, não devemos nos esquecer de que foi Deus quem a decretou e esse decreto nunca foi revogado. Rom 13:1-7 "Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal. Portanto, é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência. Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo. Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra".

"Mas a nossa pátria está nos céus", diz em Filipenses 3:20. Será que isto quer dizer que devo me separar totalmente deste mundo como fazem os monges católicos ou algumas comunidades rurais protestantes? O cristão deve sim viver separado do mundo no sentido moral, pois lhe é impossível sair do mundo. Como disse alguém, "o problema não é o barco estar no mar, o problema é o mar estar no barco".

Se prestar atenção, verá que todas as atividades dos cristãos no Novo Testamento acontecem em cidades, não na zona rural. Até mesmo as diferentes assembléias eram identificadas pelo nome das cidades onde estavam.

A posição do cristão no mundo pode ser entendida quando vemos o que Deus ordenou aos judeus que foram exilados na Babilônia, um terreno inimigo. Eles deviam viver normalmente ali e inclusive orar pela paz da cidade de Babilônia, e não criar algum tipo de movimento terrorista ou de desobediência civil.

Jer 29:4-7 "Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel, a todos os do cativeiro, que eu fiz levar cativos de Jerusalém para Babilônia: Edificai casas e habitai-as; plantai jardins, e comei o seu fruto... E procurai a paz da cidade, para a qual fiz que fôsseis levados".

Mas, voltando à questão do crente, se deve ou não buscar reparação na justiça humana, creio que se o fizer não estará pecando. Por exemplo, se o governo hoje convida os que tinham dinheiro na poupança em um dos planos passados para entrarem com uma ação contra o governo para receber a diferença, é porque não existe nada de errado contra isso. Então um cristão poderá também buscar seus direitos.

Porém, apelar para a justiça dos homens é facultativo ao cristão. Ou seja, se tenho algo contra alguém e até o direito de receber uma indenização, mas sei que isso irá prejudicar essa pessoa, eu posso perdoá-la e abrir mão de meus direitos. Resumindo, se você apelar para a justiça dos homens, você não peca e estará agindo amparado pelas próprias autoridades que Deus instituiu para que existisse ordem neste mundo. Mas perdoar e deixar pra lá é também uma opção que o cristão tem, por saber que Deus está no controle de tudo.

Sempre me lembro de um caso que li, de uma enfermeira que trabalhava em um hospital muitas horas a mais do que deveria e sem receber por essas horas extras. Alguém que viu a injustiça que a empresa estava cometendo contra ela, comentou indignado: "Você não pode deixar isso acontecer! Até Deus está vendo que é uma injustiça o que estão fazendo". A enfermeira respondeu: "Pois é, Deus está vendo".

 

 

 

 

 

Fontes: http://www.estudantesdabiblia.com.br/licoes_cpad/2009/2009_02_06.htm

             http://www.webservos.com.br/gospel/estudos/estudos_show.asp?id=3506

             http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao6-ldc-demandasjudiciaisentreosirmaos.htm                          

             http://www.respondi.com.br/2010/06/o-cristao-deve-buscar-justica-dos.html

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