A IGREJA DO DIABO EM ARACAJU...

Conversando com Mamãe por esses dias...


Descobri que em Aracaju já existiu A Igreja do Diabo...



A Igreja do Diabo é um livro de Machado de Assis.






Em A Igreja do Diabo, conto dividido em 4 capítulos, o que temos é uma narrativa densa e, aparentemente, banal e de simples interpretação. Porém, para o leitor atento e bem munido de exemplos referencialmente citados ao longo do texto, a interpretação não se torna tão objetiva assim. Sobretudo, o mais importante é que se trata de uma grande apólogo constituído por outros menores; daí o seu caráter moralizante. Mas o que dá o toque genial ao conto são as inúmeras referências ao longo do texto. Quando esse fator é atentamente observado percebemos, claramente, os valores da sátira e da paródia constituindo um pilar que serve de base para a criação machadiana, principalmente, nesse texto, onde os elementos carnavalescos são fartamente explorados.

O conto, que integra Histórias sem data, cujos personagens principais são Deus e o Diabo, enfoca de forma cômica a relação Deus/religião, homem/razão. Traz à tona a discussão de como cada pessoa pode exercer a religiosidade sem medo de viver suas incertezas, ou mesmo de duvidar da eficácia da benevolência do homem. Na discussão o Diabo questiona a hipocrisia religiosa e as práticas salvacionistas.

A religião está sujeita à crítica ferina do escritor. Neste conto Machado de Assis criticou todas as formas religiosas existentes no Brasil, bem como o modo de comercializar a fé através das vendas de conceito religioso. Porque todas as religiões vendem uma mesma ideologia, a salvação. Inclusive, com práticas proibitivas. Na visão de Machado a elite brasileira se afasta das práticas diversificadas de religiões por pura hipocrisia e preconceitos.


 Em A Igreja do Diabo, o escritor tece uma outra "nova teoria sobre a alma humana". Essa teoria se dá por meio de várias alegorias e mitos. O autor mostra essa imagem humana refletida num espelho invertido. O que o Diabo propõe é uma doutrina muito semelhante a de Deus, com a única diferença de que acaba sendo sua mais profunda negação. O Diabo se propõe a negar o que reflete; mostrar o contrário.

Machado de Assis conta a história narrada num velho escrito beneditino do dia em que o diabo resolveu fundar uma igreja, a fim de concorrer com as diversas religiões. Dizia-se cansado de ser desorganizado, de ficar com as circunstanciais sobras das diferentes manifestações de fé.

Fundando uma igreja, teria vantagem de ser única neste tipo de pregação, ao passo que para adorar deuses, havia várias: “enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha será única; (...)

Há muitos modos de afirmar: há um só de negar tudo”. O Diabo vai a Deus e comunica sua intenção. Por meio de apólogos e máximas, o Diabo explica a necessidade da nova instituição, demonstrando-a com a maestria de manipulação de recursos de estilo, entre eles o uso da ironia a favor de jogos lingüísticos na criação de uma linguagem refinada. A visão machadiana do mundo é perseguida pela sombra do pessimismo, que se revela na descrença da melhora do espírito humano. Machado não acredita nas virtudes humanas. O mundo, na concepção machadiana, é aquele em que o Mal predomina sobre o Bem, e no qual, as virtudes estão submetidas às mazelas.

O "Diabo" de Machado de Assis, mesmo lutando contra o Bem, acaba colaborando com Deus, e por isso o criador o deixa fundar o seu ministério para recolher os homens que estão perdidos. Para o Mal personificado no conto, o erro é necessário à humanidade. O autor afirma que o Diabo comunica ao Senhor a fundação da Igreja, por "lealdade" e para "não ser acusado de dissimulação". Os motivos que o levam à tal empreendimento é o do desejo da organização e da retificação da sua imagem que, segundo ele, não era como diziam as "velhas beatas" e que, na verdade, era "gentil e airoso". Outras vezes, o Diabo se denomina o "próprio gênio da Natureza", provocando aqui uma inversão de papéis. O Diabo colocou-se no patamar de Pai de Deus. De quem é, afinal, o reino "casual e adventício"?

Imediatamente, desce à terra e começa sua pregação. Defende a inveja, a gula, a preguiça, tudo com justificativas da história, das letras e das artes. Rapidamente, obtém mais e mais adeptos, tornando-se a nova igreja hegemônica.

Com a imposição de novos dogmas e crenças, o Diabo persuade até convencer os homens de que o Mal pode ser melhor do que o Bem. Multidões vêm a ele crendo nessa nova descoberta, assim como vieram a Jesus, quando este veio ao mundo como Messias enviado por Deus para salvar a humanidade. O Diabo também usa de apólogos e símbolos para exemplificar sua doutrina. Uma dessas alegorias é a das franjas e mantos de algodão ou de seda. O que demonstra o caráter ambíguo do homem. Mostra, dialeticamente, a convivência harmônica dos paradoxos que apresentam virtudes boas e más.

Os dogmas do Diabo propagou-se pelo globo, tornando-se conhecidos em muitas línguas. Temos depois, todavia, estabelecida e difundida a Igreja, o Diabo percebeu baixas entre seus fiéis. Aqui e ali seus seguidores praticavam, às escondidas, atos de bondade, de restituições de roubo, de arrependimento.

A idéia de que o Diabo, o espírito da confusão, buscava a organização de seu reino é interessante. Além disso, ele queria também a própria missa com muito vinho e pão, mesma alusão direta ao jejum cristão e à celebração do corpo e sangue de Cristo. O Diabo faz referências bíblicas, como a da "tenda de Abraão". Numa aspiração a reunir todos os povos - divididos pelas outras religiões - busca a religião única e suprema, que terá uma unidade fiel e verdadeira. Maomé e Lutero aparecem, não como a ameaça da religião islâmica ou protestante, mas como obstáculo facilmente transponível.

Machado mostra a dualidade de caráter em cada um dos preceitos pregados pelo Diabo. Um exemplo é o do Padre Galiani, que ligado aos enciclopedistas franceses, mesmo sendo religioso levava em consideração a utilidade e a raridade das coisas: "Leve a breca o próximo! Não há próximo!" - frase que parece proferida da boca do próprio Machado de Assis.

Quando em "A Igreja do Diabo", os homens voltam a praticar as antigas ações é porque aquelas, de certa forma, tinham uma explicação, senão científica, metafísica. Já quando se revoltam contra o Diabo, é porque este estava impondo-lhes os antigos preceitos de obediência, indo contra a liberdade e adquirindo seu direito de controle da humanidade, sob a desculpa de uma religião, indo contra o direito natural do homem para seu próprio engrandecimento, obtendo maior espaço para suas ações. A estrutura religiosa, vista desse modo, é muito desoladora, explicando o pessimismo de Machado diante do mundo.

A volta à prática das antigas virtudes pelos homens atordoa o Diabo. O homem seria tão contraditório que nada é capaz de defini-lo? O homem é um ser inexplicável, só que o mais perturbador e surpreendente é a maneira pela qual ele usa o seu tão cotado livre-arbítrio.

Pesquisando a fundo, verificou o Diabo que em todo o mundo já se espalhava tal atitude. Atônico, o Diabo volta aos céus, sem compreender o que havia acontecido, e Deus o consola com uma frase complacente, a propósito de uma alegoria: 

" - Que queres, tu, meu pobre Diabo? As capas de algodão têm agora franjas de seda, como as de veludo tiveram franjas de algodão. Que queres tu? É a eterna contradição humana."

No conto, Deus está conformado com essa contradição humana, justamente, porque sabe que esse sentimento de confusão parte d'Ele mesmo. Ao mesmo tempo que o Espírito Santo está contra o Espírito Negador, o pecado pode estar a favor do homem, por que, afinal, o que é o pecado, fora dos limites da religião cristã? O Diabo não propõe nada de extraordinário aos seus súditos, somente mais uma manipulação em forma da liberdade tão almejada do pecado. E o homem quer ser livre, por isso, vive se contradizendo o tempo todo. Porque quando não se está sobre domínio de um deus, há a negação de todos os princípios morais; suprime-se toda a diferença entre bom e mau, virtude e vício.

A "contradição humana" aludida no texto remete à contradição da religião cristã em eterno conflito com a essência do homem. Se, para a religião, só Deus existe e atua, agindo verdadeiramente, essa idéia religiosa contradiz o entendimento e o sentido natural que concede às coisas naturais uma certa espontaneidade; o livre-arbítrio humano. Criam-se dois pólos, um positivo que é Deus, e outro negativo que é o mundo. Deus só existe, na verdade, para explicar o sentido da máquina do universo. O homem, que é limitado de entendimento, revolta-se contra esse poder originalmente divino. A religião cristã vê o mundo num sentido prático, de uma origem mecanicista, como algo que foi criado por Deus. Essa máquina controlada divinamente leva o homem a crer alegremente numa força desconhecida despertando, desse modo, a consciência do homem de sua nulidade e dependência de Deus. O homem quer se libertar contra essas verdades presentes, contestando sua origem.






***No final da década de 70, os católicos sergipanos entraram em polvorosa por conta da inauguração da Igreja do Diabo, capitaneada por Luiz Howarth, que até hoje se intitula o Papa do Diabo. Construída no povoado Parque dos Faróis, em Socorro, o templo de Lúcifer tinha o formato de um caixão de defunto, era todo pintado de piche e para lá corriam todos aqueles que perderam a fé nas demais religiões. Pressionado pelo arcebispo de Aracaju, dom Luciano Cabral Duarte, o governador Augusto Franco, um católico fervoroso, resolveu acabar com o grande barulho feito pela imprensa nacional em torno da inusitada igreja. Mandou chamar Luiz Howarth em Palácio e propôs desapropriá-la, naturalmente pagando pelas benfeitorias. Após tudo acertado, o governador propôs a Howarth uma reunião entre eles e o arcebispo para comunicar o sucesso das negociações. Fala mansa, o cearense, que nas horas vagas ganha a vida como astrólogo, reagiu com firmeza: “Governador, não converso com padres, freiras, bispos, nem arcebispo. Eu sou o Papa do Diabo, portanto, se tiver que me reunir, terá que ser com o Papa deles”. A ideia da reunião foi abortada na hora e a igreja derrubada no dia seguinte...


Sobre Luiz Howart


Luiz Howarth, um cearense de 69 anos, é tido como o maior "satanista" brasileiro. Foi apelidado pela mídia de "papa do diabo". Em 1980, fundou a "Catedral do Diabo", mas devido ao que chama de "perseguição", foi obrigado a fechar as portas. Hoje, radicado em Vitória (ES) - onde mantém uma espécie de templo satânico na própria casa - dedica-se a disseminar o que chama de "filosofia luciferiana". Em Vitória há 20 anos, ele mantém um templo satânico em sua própria casa, com fachada pintada de vermelho e preto e repleta de esculturas e desenhos mórbidos. Para tentar explicar por que a magia é tão forte no Espírito Santo, o papa do diabo lança mão de um emaranhado de teorias. Entre elas, traça um perfil do capixaba. "O povo daqui sabe que cada um tem um pouco de satanás dentro de si", teoriza.


O culto ao satanismo, repleto de criaturas monstruosas e rituais macabros, ultrapassou os limites das páginas de livros e das telas do cinema. Ao pior estilo de "a vida imita a arte", jovens de todo o País, especialmente na faixa etária entre 17 e 25 anos, estão mergulhando num mórbido e perigoso universo. Um risco, principalmente, para os que têm dificuldade em separar a ficção da realidade. A iniciação nesse mundo das trevas tem diferentes portas de entrada, como o envolvente jogo de interpretação Role Playing Game (RPG) ou as letras satânicas do death metal, estilo musical derivado do heavy metal, com guitarras e vocais agressivos, que a cada dia ganham mais adeptos. O ato final, muitas vezes, é cruel e fatal. 


                                       



Fontes: http://www.infonet.com.br/adiberto/ler.asp?id=113808&titulo=adiberto

http://www.recantodasletras.com.br/humor/4431413

http://www.passeiweb.com/estudos/livros/a_igreja_do_diabo_conto

http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Igreja_do_Diabo

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